Tudo o que você precisa saber sobre governança corporativa
NESTE ARTIGO:
O que é governança corporativa
Como a governança corporativa cria valor para as empresas
A governança em startups
Os quatro princípios da governança corporativa
O papel do Conselho de Administração
Boas práticas da governança
Muito mais do que apenas um conjunto de regras e normas, a governança corporativa está totalmente ligada à imagem da companhia no mercado e aos resultados sustentáveis.
É o que gera valor a um negócio e ampara a estratégia empresarial. De forma simples, é um direcionador que guia e orienta a empresa no que diz respeito a poder, responsabilidades, direitos e recompensas, que afetam diretamente a conduta dos stakeholders.
Essas regras envolvem todos os públicos internos – e alguns externos – da empresa, embora os principais atores e responsáveis pela governança sejam o conselho de administração e seus membros, em colaboração com o CEO e os principais integrantes da liderança executiva.
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Como a governança corporativa cria valor para as empresas
De acordo com Pedro Melo, diretor-geral do IBGC, trata-se de um sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas.
“A governança cria valor ao negócio respeitando ética, transparência e responsabilidade, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum”, explica.
E ao contrário do que muitos pensam, Pedro ressalta que a governança deve ser implementada em todas as empresas, até nas pequenas.
O que pode acontecer, segundo ele, é começar apenas com um conselho consultivo e ir evoluindo de acordo com o crescimento.
"Nesta pandemia, as empresas que possuem uma governança instalada e funcionando, conseguiram entender mais rápido os riscos e encontraram saídas com mais agilidade”, afirma Pedro. Isso porque, a área auxilia a encontrar os melhores caminhos e a se manter no mercado.
São vários os benefícios da governança corporativa, como sucesso corporativo e crescimento sustentável.
Além disso, ao contar com uma área dedicada ao tema, a companhia passa uma boa imagem ao mercado, reduz conflitos entre acionistas, direção e conselho; descentraliza a tomada de decisões e promove uma gestão de qualidade.
A governança em startups
As startups também devem pensar no tema, mas de uma maneira diferente. Isso quer dizer que com seu foco em tecnologia e inovação, e altos níveis de risco e crescimento acelerado, essas empresas têm um estilo diferente de governança, pois evoluem rapidamente com o tempo e envolvem participantes que frequentemente ocupam funções sobrepostas e mutantes.
Por exemplo, um investidor de capital de risco é um acionista e também pode ocupar um assento designado no conselho, o que cria um status dual, como principal em um contexto, e agente em outro.
Além disso, os participantes das startups são heterogêneos, já que normalmente emitem ações ordinárias para fundadores, opções de ações para funcionários e levantam dinheiro de investidores emitindo rodadas de ações preferenciais que podem se converter com termos variados e direitos contratuais em camadas.
Isso cria uma estrutura de capital que pode dar origem a diferenças significativas entre os acionistas no que diz respeito ao controle, potenciais pagamentos de negócios e oportunidades pós-saída. As tensões de governança tendem a se multiplicar conforme a startup evolui e a complexidade de sua estrutura de capital cresce.
Esse padrão surge porque as startups geralmente não são lucrativas no início, enquanto desenvolvem produtos ou serviços inovadores.
E, geralmente, continuam a levantar investimentos externos. Ou seja, cada rodada de financiamento pode trazer investidores com diferentes termos e interesses para a estrutura de capital.
Por isso, é importante pensar na governança em startups de acordo com cada fase do negócio. Na etapa inicial, quando os empreendedores falam da concepção e lançamento do produto ou serviço, por exemplo, é importante estruturar os papéis e responsabilidades de cada sócio antes mesmo da constituição jurídica.
É preciso, também, especificar as formas de contribuição e a intensidade da dedicação, a remuneração e a futura participação. À medida que a empresa cresce e investidores entram no negócio, é necessário rever a estrutura da governança e o papel de cada um.
Porém, assim como as empresas tradicionais, as startups também estão sujeitas à alta taxa de mortalidade nos primeiros anos, e o risco de insucesso pode ser reduzido por meio da adoção de boas práticas de governança.
De acordo com o IBGC, a aplicação desse conceito impulsiona o pleno aproveitamento do capital intelectual da empresa promovendo, assim, a expansão mais competitiva e um maior valuation.
Além disso, auxilia na captação de recursos de investidores, intensificando a velocidade e consistência do crescimento da startup.
A governança deve ser debatida desde as primeiras discussões de estruturação do negócio.
Isso porque, quanto antes a empresa se preparar com regras de governança, melhor vai ser e mais chance vai ter de conquistar a posição de unicórnio.
Os quatro princípios da governança corporativa
Os princípios básicos de governança corporativa permeiam todas as práticas do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, e a adoção correta possibilita um clima de confiança tanto internamente quanto nas relações com terceiros.
Veja quais são eles:
1. Transparência
Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. É importante ressaltar que esses dados não podem se restringir ao desempenho econômico-financeiro, e devem contemplar também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização do valor da organização.
2. Equidade
Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas.
3. Prestação de contas (accountability)
Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso e compreensível, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões, e atuando com diligência e responsabilidade no que se refere aos seus papéis.
4. Responsabilidade corporativa
Quem atua com governança deve zelar pela viabilidade econômico-financeira das empresas, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e de suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no curto, médio e longo prazos.
O papel do conselho de administração
O conselho de administração é a principal ferramenta utilizada pela governança corporativa e é fundamental para que um de seus quatro pilares seja cumprido: a transparência.
Segundo o IBGC, seu papel é ser o elo entre a propriedade e a gestão para orientar e supervisionar a relação da governança com as demais partes interessadas.
“Trata-se de um órgão colegiado que está à disposição da empresa para as decisões que tenham a ver com o direcionamento estratégico”, explica Pedro.
Além disso, é um guardião dos princípios, valores e sistema de governança da companhia.
É fundamental para definir os rumos de um negócio. Uma das funções desse órgão em uma empresa é melhorar o relacionamento entre a diretoria e os sócios.
De acordo com IBGC, o ideal é que a organização conte com um número ímpar de conselheiros (de cinco a onze pessoas), mas esse número varia de acordo com o porte da empresa, estágio de vida no mercado e segmento em que atua.
Boas práticas da governança
O IBGC tem registrado avanços na adoção das melhores práticas de governança corporativa, mas há alguns pilares que precisam ser fortalecidos.
Para isso, a instituição lançou uma Agenda Positiva de Governança para os principais líderes das organizações: sócios, acionistas, conselheiros e executivos.
Esta agenda sugere medidas a serem tomadas pelos líderes, apoiadas em seis pilares, que foram selecionados a partir dos princípios básicos de governança corporativa e de temas amplamente debatidos em fóruns nacionais e internacionais.
1. Ética e integridade
É um imperativo moral – e um fator decisivo para a continuidade dos negócios – que os líderes das companhias promovam uma cultura de integridade, em que as pessoas pratiquem a confiança, o respeito, a empatia e a solidariedade.
2. Diversidade e inclusão
Uma cultura corporativa baseada na diversidade e inclusão, além de assegurar um valor humano fundamental, é fonte permanente de criatividade e longevidade.
Os líderes devem agir com urgência e se comprometer a assegurar tratamento justo e oportunidades iguais para todos, sobretudo na promoção de equidade de gênero e raça.
3. Ambiental e social
A atuação dos líderes na gestão dos impactos ambientais e sociais deve ir além da agenda institucional.
É fundamental integrar essas questões ao modelo de negócio e promover a articulação do negócio com os diversos setores da sociedade.
4. Inovação e transformação
A inovação deve ser a base de uma visão de futuro que objetiva o desenvolvimento sustentado da empresa.
Os líderes devem tomar decisões coerentes com o propósito e a estratégia do negócio, gerenciar os riscos do processo e ter disciplina para colher os resultados das ações no tempo certo, além de gerar valor para todas as partes interessadas.
5. Transparência e prestação de contas
Os gestores devem promover a transparência e prestar contas de sua atuação a partir de um diálogo aberto com as diferentes partes interessadas, identificando seus interesses e expectativas, com o intuito de obter mais confiança e melhores resultados.
6. Conselhos do futuro
Para que atuem como agentes de transformação e catalisadores da adaptabilidade e da agilidade das companhias, os conselhos devem ser compostos com maior foco em diversidade e competências socioemocionais.
Disposição para questionar, ouvir ativamente, respeitar outras visões, ousar, desaprender e reaprender são condições essenciais para explorar novas formas de gerar valor e viabilizar as transformações necessárias.
Sobre o autor:
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